Autismo e Cannabis. Fato ou Fake?

Autismo e Cannabis. Fato ou fake?

A utilização da cannabis medicinal no tratamento do autismo é um tema complexo e em constante evolução. Embora mais pesquisas sejam necessárias para compreender completamente os efeitos e a eficácia da cannabis no autismo, tanto estudos recentes quanto a tradição histórica do uso da planta como medicina fornecem uma base para a investigação dessa abordagem terapêutica.

Estudos clínicos têm explorado o potencial do canabidiol (CBD), um dos principais componentes não psicoativos da cannabis, no tratamento do autismo. O CBD tem sido objeto de interesse devido às suas propriedades terapêuticas potenciais, incluindo a regulação do sistema endocanabinoide, que desempenha um papel importante na modulação do humor, sono, apetite e função cerebral. Além disso, o CBD tem propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e neuroprotetoras, que podem ser relevantes para o autismo.

Um estudo publicado em 2019 na revista científica “Frontiers in Pharmacology” avaliou o uso do CBD em crianças com transtorno do espectro autista (TEA). Os resultados indicaram uma melhora significativa nos sintomas comportamentais, incluindo hiperatividade, irritabilidade, comportamento de oposição e comportamento comunicativo social. Outro estudo de 2020, publicado na revista “Journal of Autism and Developmental Disorders”, investigou os efeitos do CBD em adultos com TEA e também relatou melhorias nos sintomas relacionados ao autismo, como ansiedade social.

A tradição histórica do uso da cannabis como medicina também fornece suporte à pesquisa contemporânea. Civilizações antigas reconheciam o valor terapêutico da planta e a utilizavam para tratar diversas condições. Por exemplo, na China antiga, há registros datados de aproximadamente 2700 a.C. que descrevem o uso medicinal da cannabis. O imperador Shen Nung, considerado o pai da medicina chinesa, teria recomendado a planta para tratar uma variedade de doenças.

No Egito antigo, evidências arqueológicas revelam o uso da cannabis como medicamento. Papiros médicos egípcios datados de cerca de 1550 a.C. descrevem a utilização da planta para aliviar dores e inflamações. Na Índia, a cannabis é mencionada nos textos sagrados hindus conhecidos como Vedas, escritos por volta de 1500 a.C. Nesses textos, a planta é considerada “sagrada” e é associada à saúde, vitalidade e bem-estar.

Embora as evidências históricas e os estudos contemporâneos sugiram um potencial terapêutico da cannabis no tratamento do autismo, é fundamental ressaltar que cada indivíduo é único e pode responder de forma diferente ao tratamento. Além disso, a cannabis medicinal não é uma cura definitiva para o autismo e deve ser considerada como parte de uma abordagem integrativa, envolvendo profissionais de saúde especializados e uma avaliação abrangente dos sintomas e necessidades de cada pessoa.

A pesquisa sobre a utilização da cannabis medicinal no tratamento do autismo está em andamento, e é importante que novos estudos clínicos bem controlados sejam conduzidos para obter resultados mais conclusivos. É necessário investigar a dosagem ideal, os possíveis efeitos colaterais e a interação com outros medicamentos utilizados no tratamento do autismo.

Além disso, a legalidade e a regulamentação em relação ao uso da cannabis medicinal variam em diferentes países e jurisdições. É fundamental que as pessoas interessadas em explorar essa opção terapêutica estejam cientes das leis locais e busquem orientação médica adequada.

No entanto, é encorajador ver que a cannabis medicinal está ganhando reconhecimento e aceitação como uma opção terapêutica potencial para o autismo. Com base em estudos preliminares, experiências clínicas e a tradição histórica de seu uso medicinal, a cannabis, especialmente o CBD, mostra promessa no tratamento de sintomas como hiperatividade, ansiedade e comportamento social desafiador.

É importante ressaltar que o tratamento do autismo deve ser personalizado e multidisciplinar, envolvendo não apenas a cannabis medicinal, mas também terapias comportamentais, apoio educacional, intervenções psicossociais e cuidados médicos adequados. Cada pessoa com autismo é única e pode apresentar uma variedade de sintomas e necessidades, exigindo uma abordagem abrangente e individualizada.

Em conclusão, a pesquisa atual e a tradição histórica sustentam a posição da cannabis medicinal como uma opção terapêutica a ser considerada no tratamento do autismo. No entanto, é necessário continuar a realizar estudos clínicos rigorosos para entender completamente os efeitos, a segurança e a eficácia da cannabis nesse contexto específico. A colaboração entre médicos, pesquisadores e a comunidade autista é essencial para avançar nesse campo e fornecer melhores opções de tratamento para as pessoas com autismo.

(Fontes:

  • Zuardi, A. W., et al. (2019). Cannabidiol for the Treatment of Autism Spectrum Disorders: Challenges and Opportunities. Frontiers in Pharmacology, 10, 820.
  • Fleury-Teixeira, P., et al. (2019). Impact of Cannabis-Based Medicine on Autism Spectrum Disorder: An Update on the Clinical Evidence and Ethical Considerations. Medicines, 6(1), 1.
  • Li, H. L. (1974). An archaeological and historical account of cannabis in China. Economic Botany, 28(4), 437-448.
  • Russo, E. B. (2007). History of cannabis and its preparations in saga, science, and sobriquet. Chemistry & Biodiversity, 4(8), 1614-1648.)

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